segunda-feira, 17 de março de 2008

O grande nó


Há alguns dias, sucedem-se as notícias reportando a sucessiva superação de recordes na extensão de ruas e avenidas congestionadas em São Paulo – já ultrapassamos a inacreditável barreira dos 200km e o dia em que a cidade parará completamente, parece cada vez mais próximo. Hoje, na Folha de S.Paulo, dois editorialistas e um articulista convidado, além de três leitores, escrevem sobre o tema. O primeiro deles, Fernando de Barros e Silva, lembra um conto de Julio Cortazar, ‘A auto-estrada do Sul’, que inspirou o filme ‘Weekend à Francesa’, de Jean Luc Godard, e que narra um congestionamento infernal entre Fontainebleau e Paris. Os personagens passam horas, dias inteiros entalados no trânsito. “Quando, sem explicações, o nó desata, os motoristas aceleram sem que já se soubesse para que tanta pressa, por que essa correria na noite entre automóveis desconhecidos onde ninguém sabia nada sobre os outros, onde todos olhavam para a frente, exclusivamente para a frente”. Barros e Silva, entretanto, não sugere absolutamente nada para tentar resolver o problema.

Já o articulista convidado, deputado Beto Albuquerque (do PSB-RS), faz um enorme preâmbulo para depois descobrirmos que trata-se apenas de um alforrábio de auto-promoção: fala da lei proposta por ele, de fiscalização e comprovação da embriaguez do condutor. O número de acidentes automobilísticos causados pelo álcool é algo realmente absurdo e preocupante, mas o cara se vale de uma situação de urgência no trânsito para chamar a atenção para si próprio e para um problema cuja resolução, nada ajudará na melhoria do trânsito em São Paulo.

Quem dá uma bola dentro é Ruy Castro, que começa seu artigo citando Marshall McLuhan, que em 1968 disse terem as rodas se tornado a extensão do ser humano. Errou: foi o contrário que sucedeu. Como prova disso, Ruy menciona o destaque dado “pelos on-lines, jornais e TVs ao trânsito e às enchentes. Ocupam muito mais espaço do que a morte de, pelas estatísticas, 1,2 motoqueiro por dia em São Paulo. A informação de que há ‘congestionamento’ ou ‘pontos de alagamento’ em tal região é mais importante que a tragédia de um motoqueiro morto ou o estropiamento físico de outros seis ou sete. E que se remova logo o cadáver para o trânsito voltar a ‘fluir’”. Além disso, Ruy nos coloca diante de mais uma reflexão importante: “... um dos momentos do estrangulamento é que, hoje, qualquer pessoa pode comprar um carro e pagá-lo em até 72 meses. Significa que esse carro só será quitado daqui a seis anos. Mas, muito antes, já terá ficado tão velho que precisará ser trocado por outro. Sem problema: dá-se a furreca de entrada e liquida-se o resto em mais 72 meses, num endividamento que, pelo visto, só termina com a morte. Para isso nasceu o ser humano?”. O Ruy tem a sua razão, mas aí entra uma outra questão: quer dizer que agora que uma multidão das classes C e D possui facilidades de crédito, vai-se negar a eles o direito de ter o sonhado carrinho? Ou pior: culpá-los pelo congestionamento? Mas não foi essa a idéia que o capitalismo selvagem jogou na cara de todos? O status, a necessidade de ter, de comprar? E enquanto a farra estava entre os ricos, os que podiam, tudo bem... agora que a pobretada consegue uma chance, corta-se o barato? Tá errado...

Nenhum dos citados articulistas sequer comentou a necessidade de investimentos e de moralização do transporte público, ou o incentivo político (e principalmente, físico, estrutural) à utilização de bicicletas; também não se falou em estratégias que motivem a ‘carona solidária’ ou que incentivem, junto às empresas ou as próprias autarquias públicas, o trabalho em casa (com internet, isso hoje é viável e produtivo para muitas profissões). Não, nada disso. Lamentável...

31 comentários:

Patty Diphusa disse...

Nem citar o transporte público é de doer..Descobri um dias desses que tem uma pista na Tiradentes para as pessoas que tem mais de um passageiro no carro. Ainda bem que estava em um táxi senão teria entrado lá sozinha e me ferrado. Não, mais multas não.

Eu tenho colaborado para isso com o trabalho em casa. É tão mais fácil e produtivo.

bjs

GUGA ALAYON disse...

O fim está próximo. Sorte que ele tb está no engarrafamento!
ahahahaha

Anônimo disse...

+ d 6.000.000 d carros...

Anônimo disse...

Arquitetos , urbanistas e alguns setores da engenharia discutem com as paredes este problema desde os anos 70.
Um prefeito, Figueiredo Ferraz, mandato 71/73, disse que SP precisava parar, acharam que era louco.
Absoluto descaso dos burgomestres posteriores com as questões urbanas . Planos diretores com sutis, porém enormes rombos para a ação selvagem da especulação imobiliária.
O carro elevado à condição de símbolo de status.
Só poderia dar nesta merda que agora se revela. Se começarem a pensar e agir seriamente hoje, teremos algumas soluções para daqui a 5 ou 10 anos.
Preparem-se para uma nova visão de caos : o caos estático.

anna disse...

tô igual a maioria das pessoas: apática.

não fico mais tão puta de ficar engarrafada, mesmo não sendo gênio, numa avenida por uma hora.
e ainda sem som no carro.

que será que fico pensando?

Neil Son disse...

patty: vc não acha que poderia haver uma estratégia séria para motivar as empresas a deixar seus funcionários trabalhando em casa? algo que começasse pelas empresas públicas seria um belo empurrão, eu acho.

Neil Son disse...

hahaha, guga, vamos engarrafar o fim também!!!

Neil Son disse...

anônimo: ... and growing...

Neil Son disse...

peri: esse engenheiro ferraz, biônico, pode ter dito essa coisa certa, mas tb foi uma bosta de prefeito, falaverdade...

Neil Son disse...

anna: sem dúvida, tempo pra pensar é o que não vai faltar...

Anônimo disse...

tppn.
eu faço minha parte não saindo de casa pra trabalhar e minha consciência tá tranquila.

Anônimo disse...

Neil
Ok, biônico, mas foi um engenheiro muito respeitado no meio e o único que teve coragem de falar o que falou, coisa que nos meios acadêmicos era exaustivamente discutida : o caos que viria.
Hoje, nossos pragmáticos e eleitoreiros pais da pátria, cagam e andam para qualquer produção dita " intelectual" que discuta os problemas que nos cercam.
O trânsito estourou na mão do Kassab, vamos ver as propostas que virão.
Quem sabe uma rede de teleféricos ?

Neil Son disse...

franka: o que é tppn? e eu, da minha parte, preferia não trabalhar e sair de casa, hahaha.

jayme disse...

Busão, caminhada e metrô: alguns milhões de motoristas solitários terão de adquirir esses hábitos, pelo menos entre as 6h e as 20h de segunda a sábado. Não tem outro jeito.

Anônimo disse...

Busão é pedreira pura. Tenho uma sujestão para São Paulo, demolir 40% da cidade, não faria a menor falta. Mas, como sempre o poder público está rastejando lentamente enquanto o problema está voando rapidamente, a coisa vai travar feio. Acho que o problema está na aversão que os seres hunanos têm uns pelos outros. Ninguém mais se suporta além do necessário.

GUGA ALAYON disse...

Falta investir pesado no Tele-Transporte, única saída 'viável'.

Neil Son disse...

mas jayme... como fazer isso com essa 'beleza' de transporte público que a gente tem em sumpaulo??

Neil Son disse...

pois é hélio, e o pior é que essa aversão se transforma em selvageria pura quando um pacato cidadão se instala atrás e um volante.

Neil Son disse...

tele-transporte DJÁ, guga! chama aí o dr. spock!

liquidificador disse...

vc já deve ter lido o conto Engarrafamento, do L.F. Veríssimo, parte do Gigolô das Palavras. Escrito há uns 25 anos, prevendo direitinho nossa situação atual. Eu também quero tele-transporte, mas acho que a fila vai ser maior que a do trem pra Osasco.

Neil Son disse...

carol: será que o tempo de fila pro tele-transporte vai ser maior que o tempo que a gente gasta no trânsito??? putz, que pesadelo!

Anônimo disse...

tppn = transito por porra nenhuma.

Anunciação disse...

Lamentável,mesmo.Parece que esse pessoal tem algum bloqueio que não os deixa raciocinar.

Anônimo disse...

Nossa, eu vendia a alma pra poder trabalhar de casa!
Pior que meu trabalho é 100% online, não mudaria nada, N-A-D-A a qualidade do que faço, talvez até melhoraria... Ficar de pijama é motivador.

Mas como tenho que ir até o trabalho... Vou de busão mesmo. Sou uma das únicas pessoas da minha faixa etária - 22 anos - que não têm carteira de motorista e nem vontade de dirigir.

Mas, ok: eu moro perto das coisas...

Busão é uma merda, mas me serve muito bem. Ainda mais depois que o Carlos Zarattini, na gestão da Marta, inventou o miraculoso, único e super útil Bilhete Único. I LOOOVE BILHETE ÚNICO!!!

É por isso que o PT vai investir pesado no tema 'trânsito' pra tentar desmoralizar o Kassab... O trânsito já era uma merda. O Kassab não fez absolutamente nada a respeito e o tempo passou...
O resultado tá aí: 200 Km de lentidão.

Agora a prefeitura me vem com um pacote "anti-trânsito". Ah, me poupe!

Aff, me empolguei.

Anamyself disse...

Ah, só pra complementar (ou não):
meu tcc vai ser a cobertura da campanha da Marta.

Neil Son disse...

anunciação, acho que o tal bloqueio desse pessoal é proposital... tem motivações políticas. como disse a aninha aí, logo depois de você, para propor alguma solução pro transporte publico em sp ou avaliar o que foi feito de bom ou que pode ser feito, será preciso inevitavelmente falar bem da marta suplicy.

Neil Son disse...

anunciação, acho que o tal bloqueio desse pessoal é proposital... tem motivações políticas. como disse a aninha aí, logo depois de você, para propor alguma solução pro transporte publico em sp ou avaliar o que foi feito de bom ou que pode ser feito, será preciso inevitavelmente falar bem da marta suplicy.

Neil Son disse...

vixi, duplicou!!

Neil Son disse...

bem, aninha, acho que minha posição a respeito já tá clara na resposta (dupla, hehe) que dei aí em cima pra anunciação. bjsss

Anônimo disse...

Achei um blog pra que as pessoas dêem sugestões sobre como dar um jeito no trânsito:
http://www.movimentopelomovimento.com.br

Neil Son disse...

valeu a dica, aninha!