sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Musas de Qualquer Estação





Uma Mulher com M maiúsculo. Jessica Lange, a atriz americana nascida em 20 de abril de 1949, fez curso de mímica em Paris, estudou teatro no célebre Actor’s Studio de Nova York e foi modelo, até ser ‘descoberta’ pelo produtor Dino de Laurentis, que a convidou para estrelar o primeiro remake de King Kong, dirigido pelo obscuro John Guillermin em 1976.


Depois, ganhou um pequeno papel em ‘All that Jazz’ (1979), do celebrado Bob Fosse, e foi a atriz principal de ‘The Postman Always Rings Twice’ (direção de Bob Rafelson, 1981), onde protagoniza aquela que é, para mim, uma das mais eróticas cenas do cinema, ao lado de Jack Nicholson (foto ao lado). Ali também conheceu Sam Shepard, o justamente celebrado ator e dramaturgo que é seu marido até hoje.




Um dos filmes mais recentes de Jessica é o ótimo ‘Broken Flowers’ (de Jim Jarmusch, 2005), onde vive uma hilária ‘comunicadora de animais’. Hoje quase sessentona, Jessica Lange permanece como um daqueles raros ícones femininos cuja beleza transcende em muito o aspecto físico. É uma deusa, eterna.

A última asneira do judiciário

Sim, sim, hoje é dia ‘Musa’ aqui no blog, mas calma... antes, me sinto obrigado a atender ao pedido do prof. Idelber Avelar, do blog ‘O Biscoito Fino e a Massa (http://idelberavelar.com/), e me solidarizar com o Juca Kfouri para divulgar dois fatos absolutamente verídicos, por ele relatados e que absurdamente, por have-los relatado, sofre ridícula posição de uma juíza sem noção. Leiam abaixo o resumo do post do Idelber e aguardem... a musa dessa sexta vem mais tarde.

A juíza Tonia Yuka Kôroko acaba de conceder liminar determinando que Juca Kfouri está proibido de “ofender” o deputado Fernando Capez (PSDB), ou pagará multa de 50 mil reais. O crime do Juca? Ter dito que o deputado Capez fracassou no combate à violência das torcidas organizadas quando era promotor e que mesmo assim elegeu-se deputado graças à notoriedade alcançada pela campanha. A outra grande ofensa? Ter dito que o curso de Direito dirigido pelo tucano teve nota abaixo da média tanto no Provão do Ministério da Educação como na OAB. Em outras palavras, o grande crime do Juca foi ter relatado dois fatos. Na prática, a Dona Kôroco proibiu Juca Kfouri de falar do Deputado Capez, num país democrático e de imprensa livre. O cabra tem que ver seu time na segunda divisão e ainda por cima ser vítima de deputado e juíza como esses. O Juca não cala a boca, claro. Vai lá e faz um post. Proponho que nos solidarizemos com o Juca espalhando por aí esses dois fatos:

1) o Deputado Capez fracassou como promotor no combate à violência das torcidas, mas se elegeu deputado graças à visibilidade adquirida ali;

2) o Deputado Capez dirigiu um curso de Direito que teve nota abaixo da média tanto no Provão como na OAB. Que ele processe o universo.

Se você tem blog, ajude a divulgar. O próximo processado a gente nunca sabe quem será.

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Jogando bola, fazendo música... e indo à praia!




Kaká e Marta foram eleitos ontem, por técnicos do mundo todo, os melhores jogadores de futebol do planeta no ano de 2007. O fato reaviva em mim, a seguinte questão: apesar da intelectualidade brazuca rechaçar o estereótipo do Brasil que faz sucesso lá fora – mulheres, futebol e música -, acho uma besteira a gente ter vergonha disso, brigar contra isso, querer fugir disso.
A cultura brasileira é mesmo o que temos de melhor: futebol e música são as áreas onde, sem dúvida, nos destacamos em escala mundial. E as mulheres? Aí realmente é um problema (por envolver ‘coisificação’, machismo e turismo sexual), mas mesmo nesse aspecto, o Brasil poderia se aproveitar dessa ‘fama’, para direcionar o interesse em termos de turismo ‘saudável’, de praias, de sol, das paisagens espetaculares que temos.
Assim, creio que deveria se investir seriamente em um projeto de médio e longo prazo para a música brasileira e o futebol. E aliar essas duas coisas a um projeto verdadeiramente profissional de turismo.


No futebol - masculino e feminino -, o investimento em categorias de base, a faxina nos clubes e na CBF, o alijamento dos cartolas corruptos que há décadas mandam e desmandam, a dinamitação do monopólio da TV Globo - tudo isso para garantir, no futuro, a permanência dos craques brasileiros por aqui, para vender à Europa as transmissões de TV de um Campeonato Brasileiro bem organizado e cheio de estrelas, e para conectar o futebol ao turismo, oferecendo ‘pacotes’ ao exterior.


Na música, a organização de ‘trupes’ cooperativas, com apoio oficial do governo para turnês em circuitos universitários da Europa e dos EUA , entre outras ações domésticas como a moralização do sistema de arrecadação de direitos autorais e a democratização do acesso ao ‘ouvir música’ e ao ‘fazer música’ – nas praças, nos coretos, nas estações de metrô, nos bares e restaurantes.
E no turismo, a implantação de um sistema sério de preservação e valorização de praias e outras belezas naturais, com o possível estabelecimento de comitês locais de gestão. São apenas idéias embrionárias, mas sustentadas por um conceito simples e do qual deveríamos nos orgulhar: somos sim o país do futebol, da música e das belas praias! E a partir dessa valorização correta e profissional, as portas estariam abertas, lá fora, para a justa valorização da nossa ciência e da área dos negócios, de forma abrangente.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Espaço dos Sem Blog - 1a. Edição

O MSB - Movimento dos Sem Blog, orgulhosamente inaugura, neste sítio, o ESB - Espaço dos Sem Blog, com um texto de autoria do jornalista Walterson Sardenberg Sobrinho. Grande figura, conhecida pelos amigos 'das antigas' pelo codinome bem menos pomposo de 'Boca' (e no meio jornalístico, por 'Berg'), Walterson é um exímio contador de histórias e possui texto refinado. Tem hoje o emprego dos sonhos de muito jornalista: editor-chefe de uma revista de turismo. Ou seja: o cara viaja o tempo todo pro mundo inteiro, fica nos melhores hotéis, come nos melhores restaurantes, e ainda ganha pra isso, hehehe.... Bem, aí está: deliciem-se com o texto abaixo e, aos integrantes do MSB, renovo o aviso: mandem suas colaborações (textos, imagens, qualquer coisa...) para marcio@smartci.com.br. Como aponta ameaçadoramente o Imperial aí embaixo, você pode ser o próximo a ocupar esse espaço!




Comédia de erros

— E então eu falei para o Fernando: “Fique tranqüilo. Já te enviei aquele material, ninguém vai saber de nada”.
Fernando, no caso, era Fernando Collor de Mello, então recém-eleito presidente. Quem se referia a ele com tanta intimidade, ao telefone, era o gordo Carlos Imperial. Não duvidei que Imperial desfrutasse da intimidade do presidente. Ele era capaz de tudo. No Natal de 1968, enviara aos amigos um cartão de Boas Festas em que, debochado, aparecia fotografado nu no vaso sanitário, exibindo sua rotunda silhueta. Muita gente se divertiu ao receber o mimo. Nem todo mundo. Um general sem espírito natalino mandou prender Imperial. Dias antes, os militares haviam jogado no toalete os tais “escrúpulos da consciência” e instaurado o AI-5.
— Você conhece o presidente faz tempo? — perguntei.
— Ah, desde a época em que ele era garotão e andava de enrosco com um mulherão que foi atriz de um dos meus filmes. O Fernando estava sempre nas locações. Fazia um tremendo sucesso com a mulherada.
Continuei não duvidando. O Imperial, que eu conhecera meses antes numa entrega do Troféu Imprensa, era mesmo capaz de tudo. Nos anos 50, ele lançara Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Jorge Ben. Na década seguinte, se tornaria um compositor de raro faro para o sucesso, criando clássicos como o Vem Quente Que Estou Fervendo — este em parceria com Eduardo Araújo. No programa Esta Noite se Improvisa, na TV Record, era dos poucos que rivalizava em conhecimentos musicais com os garotos Chico Buarque e Caetano Veloso. Vestindo uma camisa do Corinthians e bancando o machista e mulherengo, pedia vaias à platéia. Sua máxima: “Prefiro ser vaiado numa Ferrari a ser aplaudido num ônibus”. Era uma figura. Já nos anos 70, pegara uma carona, primeiro como produtor e depois como diretor, na onda das pornochanchadas. Era homem de sete instrumentos, embora arranhasse mal e mal o violão.
Naquele começo dos anos 90, porém, andava esquecido, doente e amargurado. Por isso, arrumara interlocutores como eu, um jornalista pouco conhecido de São Paulo. Mas não perdera a verve. Contava casos durante horas e deixara escapar a história de ter enviado ao presidente algo que me pareceu comprometedor. Percebendo que falara demais, passou a ser reticente. Mas, tanto insisti, que Imperial acabou contando.
Em uma de suas pornochanchadas, o roteiro enveredava pela comédia de erros, aquela série de situações cômicas de entra gente, sai gente, com correrias etc e tal. Faltavam, porém, coadjuvantes. Imperial teria visto Collor dando sopa no set e, em nome da amizade e da carência de opções, pediu que participasse da sequência. Tarefa do novato: correr só de cuecas. Collor quis ir embora. Mas Imperial era, de fato, capaz de tudo. Persuadiu o rapaz. Agora, duas décadas depois, estava enviando ao presidente as cenas comprometedoras retiradas das cópias que restaram do filme.
Que filme seria aquele? Perguntei, insisti e nada. Mais o gordo não contava. Eu que ficasse curioso. Nas consultas que fiz à época, descobri que Imperial estreara como produtor em 1974, com Banana Mecânica, estrelando Rose di Primo. Depois, dirigira no mesmo ano Um Edifício Chamado 200, com Vera Gimenez. Seguiram-se Sexo das Bonecas (1976), com Arlete Salles, e três filmes rodados em 1977: Férias Amorosas, com Marta Moyano; Funerária Kung Fu, com Sandra Escobar e, fechando a safra, Sexo Maníaco, de novo com Marta Moyano. Confesso que ainda não perdi a curiosidade. Estou sempre atento à programação do Canal Brasil para ver se uma daquelas fitas aparece.
Nunca soube se a história da comédia de erros era verdadeira. Carlos Imperial morreu de infecção generalizada em 4 de novembro de 1992, aos 56 anos. Àquela altura, o Fernando já havia aprontado coisas muito piores do que correr de cuecas num filme nacional.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Musas de Qualquer Estação


Ela surpreendeu ao surgir muito à vontade (em todos os sentidos) no papel da ‘Engraçadinha’, de Nelson Rodrigues, em minissérie da TV Globo em 1995. Era uma beleza juvenil mas impositiva, um tanto fora dos padrões, com personalidade forte.
Estrela da noite pro dia, Alessandra Negrini não seguiu, porém, o caminho fácil dos papéis açucarados e nem o da ‘sex symbol’, passando a viver outros personagens difíceis, no cinema (em ‘O que é isso, companheiro?’) e na TV (em ‘A Muralha’ e em diversas novelas). Pra completar, casou-se com o ‘anti-herói’ e ‘anti-galã’ Otto, talentoso e escrachado cantor/compositor pernambucano.
Paulista nascida em 29 de agosto de 1970, Alessandra personificou um dos ensaios mais sensuais da história da Playboy brasileira. Ao invés das previsíveis, produzidíssimas, falsas, forçadas – e por tudo isso, brochantes - fotos que normalmente habitam as páginas da revista, a moça resolveu encarar o desafio de posar nua, como a atriz que verdadeiramente é, vivendo uma prostituta do baixo meretrício carioca em ensaio simplesmente sensacional.

Para 2008, aguardamos Alessandra Negrini nos papéis principais dos novos filmes de Walter Lima Jr. (‘Os Desafinados’) e de Júlio Bressane (‘Cleópatra’).

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

MSB - Movimento dos Sem Blog!!

Aviso importante: a partir desta data, este blog está aberto para a publicação, uma vez por semana, de colaborações externas.

Ou seja, se você não tem blog e deseja publicar algo interessante, de 'sua lavra' - um texto, uma foto, uma imagem, uma ilustração ou o que seja, seus pobrema se acabaram-se!!
Você, caro candidato a colaborador, queira ou não, já é membro do MSB - Movimento dos Sem Blog - e está apto a participar.

Para isso, basta enviar a sua colaboração para o email marcio@smartci.com.br.

Aviso ainda mais Importante: o envio não garante a publicação. Sou totalmente democrático e contra qualquer tipo de censura, mas quem manda nessa bagaça sou eu! Ou seja, se eu não gostar do material ou achar que não tem nada a ver com este espaço, vetarei mesmo, hehehe...

É isso. Está inaugurado o Movimento dos Sem Blog e junto com ele, o Espaço dos Sem Blog!

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Baby quando era Baby


Baby Consuelo. 1978. Lançamento do primeiro disco solo da cantora, ‘O que vier eu traço’ – um bom disco, aliás, com saudáveis resquícios dos tempos gloriosos de Novos Baianos. Prenunciava uma exitosa e interessante carreira-solo, coisa que infelizmente não aconteceu, por equívocos de vários tipos (‘místicos’, principalmente).
Bem, mas no final dos 70, fazíamos aquela ‘via crucis’ habitual da divulgação de rádio da época – tempos românticos em que o divulgador levava o artista, de rádio em rádio, batalhando para que a música entrasse na programação. Em uma emissora do ABC paulista (não me lembro qual era e nem se era no A no B ou no C), havia um locutor/apresentador, tipo Alberto Roberto - aquele personagem radialista do Chico Anísio, com voz de trovão, brilhantina no cabelo e mão em concha no ouvido.
Ao nos depararmos com a figura, já foi difícil conter o riso. No pequeno estúdio, entrevista ao vivo com as perguntas mais absurdas, feitas por aquele tipo, naquele ambiente, às 8 e meia da manhã (‘Você é a favor do amor livre? Você faz uso de drogas?'), eu evitava encarar a Baby – era uma daquelas situações em que ambos sabíamos que explodiríamos em gargalhadas a um simples encontro de olhares...
Finalmente, o Alberto Roberto diz: "Bem vamos tocar agora a ‘música de trabalho’ do disco de Baby Consuelo". Roda então ‘Ele mexe comigo’, suingado samba-rock de Pepeu e Galvão, onde Baby repetia várias vezes o título ‘ele mexe comigo, ele mexe comigo, ele mexe comigo’.

Ao final, volta o locutor, com a voz mais empostada possível e aquela mão no ouvido, para dizer, seríssimo:
‘Acabamos de ouvir Baby Consuelo em ‘El México Mio’.
Aí não deu pra segurar: eu e Baby caímos na mais desbragada gargalhada. O cara ficou puto, chamou os comerciais e simplesmente expulsou a gente do estúdio e do prédio, chamando a ambos de drogados, irresponsáveis e vagabundos. A gente nem conseguiu contra-argumentar enquanto ele nos empurrava escada abaixo, porque não conseguíamos parar de rir.
É claro que, depois dessa, nunca mais se ouviu a voz de Baby pelas ondas sonoras daquela emissora.
UPDATE: o nome do personagem do C.Anísio em questão não era Alberto Roberto e sim, Roberval Taylor!! (valeuaê, Guga!)

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Fome Suspeitíssima


Tá na Folha de hoje:

O correspondente do ‘El País’, sempre atento a temas católicos, escreveu sobre o bispo Luiz Cappio, em greve de fome, sob o enunciado ‘Disposto à martírio por rio’. Em entrevista ao Terra, Cappio se comparou a Cristo - e garantiu que a ‘grande maioria’ da CNBB o apóia.

Ué, não tô entendendo nada... A Igreja Católica definiu, há tempos, que ‘só Deus pode dispor da vida humana’, condenando assim, com uma só frase, assassinatos, abortos, suicídios, eutanásias e greves de fome. Quando o tal bispo fez a sua primeira greve de fome, ano passado, a CNBB foi em cima dele e o próprio Vaticano, se não me engano, se envolveu no caso. Agora, silêncio absoluto. E o pernóstico e arrogante religioso ainda se compara a Cristo e sai com essa de que a ‘grande maioria’ da CNBB o apóia.

A verdade é a seguinte: a Igreja sempre apoiou o coronelismo e a politicalha mais sórdida do Nordeste, que por séculos eterniza a miséria e a ‘indústria da seca’. Agora, quando surge ao menos uma idéia concreta que tenta resolver, ou no mínimo, atenuar a desgraça, eles ficam contra. Não estou nem discutindo se a transposição do São Francisco é viável ou inviável, se é um projeto correto ou não, mas me parece claro que essa atitude do bispo e da Igreja como um todo, tem caráter político, sensacionalista e de tentativa de manutenção de um status quo cruel e absurdo.

Quer saber? Que esse bispo morra de fome e que leve com ele, para o túmulo, essa Igreja carcomida e aquele papa nazista.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Musas de Qualquer Estação


O violão e o estonteante par de pernas aí de cima pertencem a Carla Bruni, ex-modelo e atual cantora e compositora nascida na Itália (em 23/12/68) e radicada na França. A moça parece ter nascido com a bela ‘derriére’ voltada pra Lua... Filha de um magnata da indústria automobilística, acrescentou mais alguns milhõezinhos à sua já polpuda conta bancária ao tornar-se, na década de 80, uma das modelos mais requisitadas e bem pagas do mundo, dividindo o estrelato com Claudia Schiffer, Kate Moss e Naomi Campbell. De quebra, foi namorada de Mick Jagger e Eric Clapton. E ao contrário de suas contemporâneas, soube abandonar a carreira na hora certa. Para surpresa geral, ressurgiu em 2002 como cantora e compositora, lançando o CD ‘Quelqu’un M’a Dit’, grande sucesso em toda a Europa. O mais incrível é que o disco é muito bom, não ficando nada a dever ao hoje incensado ‘5:55’ de Charlotte Gainsbourg, outra beldade talentosa que merece um post especial dessa série ‘Musas..’.

Mas a escultural Carla não deixou por menos: depois de uma série de shows muito elogiados – onde qualitativamente superou, com delicadeza e bom gosto, o já bem sucedido CD de estréia -, a moça mergulhou na literatura inglesa para lançar no começo desse ano o CD ‘No Promises’, onde apresenta uma série de composições próprias que emolduram poemas de baluartes como W.B.Yeats, Emily Dickinson e Dorothy Parker. E o disco, mais uma vez, surpreende pela elaborada sensibilidade e despretensiosa elegância.

Não é possível! Carla Bruni deve ter mau-hálito, unha encravada ou sudorese. Deus não é justo!

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

João, primeiro e único


Artigo sobre show de João Gilberto no antigo Palace (SP), somente para convidados da Brahma.
De um tempo em que ‘bocada’ era ‘tititi’, ‘celebridade’ era ‘notável’ e a Brahma era brasileira, hehehe...
Funciona também, espero eu, como argumento forte contra aqueles que acham JG um chato que só reclama e que canta, enfadonhamente e ad nauseum, as mesmas e mesmas músicas.

Originalmente publicado pelo Jornal da Tarde em 05 de abril de 1991.


Poucos seriam capazes de prever: a platéia de privilegiados que lotava o Palace na noite de quarta-feira, participando com entusiasmo de um tititi sem precedentes na história da casa, permaneceu no mais absoluto silêncio durante os exatos sessenta minutos em que João Gilberto esteve no palco. Após duas horas de espera, ruidosamente preenchidas com vários encontros entre notáveis e muita bebida, o público foi avisado de que não poderia fumar durante a apresentação do cantor e as muitas câmeras fotográficas e de televisão só poderiam entrar em ação depois de meia hora de show. A estrela da noite soube retribuir o respeito do público: o que se assistiu a seguir foi um raro espetáculo de técnica e preciosismo, proporcionado por um dos melhores músicos do mundo, com toda a seriedade e obstinação que essa condição certamente exige.
Há muito tempo João Gilberto já demonstrou seu desprezo pelo rótulo ‘bossa nova’; ele se considera um sambista. Não por acaso, o repertório do show do Palace incluiu dezesseis sambas tradicionais, interpretados no consagrado estilo que se convencionou chamar de bossa nova mas que é, muito mais, uma forma de cantar e tocar violão criada por João Gilberto, que a cada dia busca torná-la mais próxima da perfeição. É cristalino: ao contrário do que apregoam os idiotas da obviedade, a arte de João está em constante evolução; e cada apresentação sua pode ser apreciada como uma verdadeira aula de música brasileira. Depois de um show de João Gilberto, lembramos que o Brasil, ao menos musicalmente, é uma verdadeira maravilha. Isso ficou claro a partir da primeira música do show, ‘Pra que discutir com madame’, samba genial de Janet de Almeida e Haroldo Barbosa. Janet, irmão de Joel (aquele do chapéu de palha), morreu jovem e desconhecido; seu nome não consta de nenhuma enciclopédia de música brasileira. Agora, encontra seu lugar na história pela sensibilidade de João Gilberto, que abre seu último disco com outra composição de Janet, ‘Eu sambo mesmo’. Essa música, de emocionante beleza, foi sem dúvida um dos pontos altos do show, que também trouxe outras músicas de ‘João’, o disco: ‘Eu e meu coração’, ‘Palpite infeliz’, ‘Siga’, ‘Rosinha’ e ‘Sampa’, onde a melodia e os versos de Caetano Veloso receberam uma inacreditável e virtuosística divisão rítmica. Aliás, quem já tem o novo disco de João e esteve no Palace, pôde comprovar que a voz e o violão do mestre tornam dispensáveis os arranjos de orquestra que foram escritos para todas essas gravações.
João Gilberto também incluiu no show algumas músicas que se tornaram autênticas pérolas de seu repertório mais recente, como ‘Preconceito’, ‘Adeus América’, ‘Sandália de Prata’ e ‘Curare’; e ainda brindou o público com belíssimas interpretações de ‘Saudosa Maloca’, ‘Aos pés da cruz’, ‘Saudade da Bahia’ e ‘O Pato’, esta, a única da fase consagrada como bossa nova, que constou do roteiro. Todo esse programa de música brasileira de primeira linha foi apresentado no Palace com som perfeito e uma iluminação precisa e criativa na sua simplicidade. E quando João Gilberto deixou o palco, dois telões exibiram o comercial gravado por ele para a Brahma - desde já, a mais requintada interpretação de um jingle jamais feita no Brasil. É certo que o roteiro do show poderia ter mais uma hora, incluindo coisas como ‘Estate’, ‘You do something to me’, ‘Isaura’ e tantas outras. Afinal, quando João Gilberto canta, sempre fica a impressão de que foi pouco; e todo o folclore que existe em torno de sua figura invariavelmente polêmica se torna insignificante diante da impressionante dimensão de sua arte.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Cantoras! Ah, as cantoras...



Uma coisa que gosto de fazer é ‘descobrir’ cantoras. Por indicação de amigos ou por garimpagem própria, passei a conhecer vozes como a da norueguesa Hanne Hukkelberg, da inglesa Nellie McKay, da australiana Sia, da canadense Martha Wainwright, da francesa Camille, da sueca Lisa Ekdahl, das americanas Jill Tracy, Holly Golightly, Laura Veirs e Joan Wasser (da banda Joan As Police Woman), entre muitas outras. Cada uma delas com seu estilo, navegando entre gêneros que vão do jazz ao folk, do pop/rock a sutilezas eletrônicas e experimentais, mas todas com um ponto em comum: talento, muito talento!

E destaco a moça de bonezinho das três fotos aí de cima: trata-se de Regina Spektor. Ela nasceu e viveu em Moscou até os nove anos de idade, quando mudou-se com a família para o Bronx nova-iorquino. Estudou piano clássico, fez teatro e passou a cantar em qualquer lugar que fosse possível: em bares, sinagogas, estações de metrô..., até despertar a atenção e virar a queridinha da banda cult, Strokes. Mas a carreira de Regina só deslanchou mesmo com seu segundo CD, ‘Soviet Kitsch’, de 2004, seguido pelo também ótimo ‘Begin to Hope’, em 2006. Regina Spektor faz música pop (no melhor sentido que o termo possa ter) com muita originalidade e um gosto de música de cabaré. Ela dignifica a linhagem das cantoras/compositoras/pianistas do pop mundial, que inclui Carole King, Kate Bush, Rickie Lee Jones, Sarah McLachlan e Tori Amos, por exemplo.

Outra grande artista é Stacey Kent – praticamente desconhecida no Brasil, mas dona de uma carreira já consagrada, principalmente na Europa. Foi pra lá que a moça foi, cedo ainda, estudar línguas; apaixonou-se pelo saxofonista Jim Tomlinson, virou cantora de jazz e já tem sete CDs lançados - todos excelentes. Sua voz é cristalina e a dicção, fantástica. Seu CD mais recente é 'Breakfast On The Morning Train' , que reúne standards de jazz e da ‘chanson’ francesa, além de composições inéditas do maridão Jim. Não por acaso, Clint Eastwood, que é um sujeito que sabe das coisas, contratou a moça pra cantar em seu aniversário de 70 anos. Stacey Kent é simplesmente a melhor cantora que ouvi nos últimos anos.